Para povos de outros tempos, a dança está ligada à magia, ao amor e à morte, e dançam cada um desses momentos solenes da sua existência. Da época em que as danças ritualísticas eram usadas para estabelecer uma relação com as divindades, ou seja, a própria natureza, restaram alguns poucos sinais, entre eles, a dança do ventre. Proveniente de rituais sagrados cuja sedução ainda hoje persiste, é anterior à mais antiga civilização conhecida historicamente, a dos Sumérios, por volta de 3500 a.C., vindos da África Central.
Ligada aos cultos e ritos de fertilização em honra das divindades femininas, estas danças eram dirigidas por jovens sacerdotisas dos povos mesopotâmicos, indianos e egípcios que reverenciavam a Grande Mãe, na forma de Inana, deusa do amor e da alegria de viver. Os frutos da Grande Mãe eram a terra generosa e a prole abundante. No Egipto pré-dinástico (anterior aos faraós), como dançarinas e sacerdotisas, algumas mulheres começaram a estabelecer rituais para preservação da própria raça, insinuando-se por meio da dança para seduzir o homem escolhido, que seria pai de seus filhos. Apenas eles poderiam vê-las dançar.
Intocáveis, em qualquer circunstância, as oferendas deveriam ser depositadas aos pés das sacerdotisas. Mostrar o corpo perfeito no acto de louvar a Deusa Mãe não era vergonha nenhuma, a sensualidade não deveria ficar escondida, mas sim, transparente, já que a própria deusa era representada por seios fartos e largos quadris – o corpo feminino ideal da época.
No quotidiano as danças eram realizadas com o corpo nú, provido de cordões feitos de cipós presos aos quadris, onde penduravam somente ocas, recheadas com pedrinhas que tilintavam á medida que as ancas marcavam o compasso da música.
Com a invasão do Egipto por outros povos, principalmente árabes, a dança do ventre difundiu-se e mesclou-se por todo o Médio Oriente, sofrendo modificações no seu conteúdo e forma. Seu nome também varia de local para local: Dança do Leste, do Sol ou de Rá, do Quadril ou Baladi (significa dança do meu país). A Dança da fertilidade começou a se misturar com passos beduínos, mais pulados e alegres numa homenagem aos povos rurais. Assim a dança da Bengala era dedicada aos pastores, a do Jarro, relacionada á colheita em geral e havia ainda danças guerreiras, a da Espada e do Punhal.
A escrava Egípcia que dominasse a técnica da dança do ventre valia muito mais. Como eram nómadas e mercadores, os árabes ajudaram a difundir e diversificar o estilo da dança, mediante a venda dessas escravas para outros locais da Africa, Europa e Estados Unidos. Isso explica até mesmo as variações de roupas hoje usadas nas apresentações dos shows. As odaliscas, por exemplo, utilizavam vestimentas com brilhos diversos, influenciadas pela América. As dançarinas libanesas e turcas usam salto alto na execução dos passos, já a mulher egípcia preserva até hoje os pés descalços, para não fugir ao contacto com a mãe terra e o ventre descoberto a fim de captar a energia do sol.